domingo, 30 de novembro de 2008

Jogar



Passei uma tarde de sábado com as crianças da Esquina Cultural. Aqui estou jogando Damas com João Victor. Foi uma vitória arrasadora (para ele!). Quase todas as peças dele viraram rainhas. Decididamente, as Damas não são mais as mesmas.






É disso que eu gosto: encontro colorido, simplicidade, crianças, alto-astral, música, alegria de estar junto...

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Continuando com Drummond

Cursei a Universidade em São Carlos, uma cidade ótima, porém longe de São Paulo. Então eu morava em República. Claro que tinha suas delícias, mas o comecinho mesmo, essa saída da casa dos pais, como foi dolorido. Sentia-me pequenininha. Como num internato. E lá estava Drummond, pra me dizer: “olha, eu também me sinto assim. Estou detestando tudo. Mas vamos falar baixinho que o padre pode escutar”:

Terceiro dia

Drummond

Mamãe, quero voltar
imediatamente.
Diz a Papai que venha me buscar.
Não fico aqui, Mamãe, é impossível.
(...)
Ai Mamãe, minha Mãe, o travesseiro
eu ensopei de lágrimas ardentes
e se durmo é um sonhar de estar em casa
que a sineta corta ao meio feito pão.
(...)
Mamãe, o dia passou, mas tão comprido
que não acaba nunca de passar.
Um ano à minha frente? Não agüento.
Mas farei o impossível. Me abençoe.
E faz um frio... A caneta está gelada.
Não te mando esta carta
que um padre leria certamente
e me põe de castigo uma semana
(e nem tenho coragem de escrever).
Esta carta é só pensada.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Continuando a conversa...

que livros me fizeram levantar a cabeça da leitura e pensar?

O primeiro que conseguiu esta façanha foi Andersen. Quando eu era bem pequena, a história com a qual mais me identificava era “O patinho feio”. Eu me sentia diferente de todo mundo, e a história me alentava: era preciso ter calma que eu me transformaria num cisne e me vingaria de todo mundo que ria da minha falta de jeito, da minha timidez, das minhas esquisitices! (o sentimento de vingança talvez não fosse a tônica da história, mas era assim que eu pensava).
Na minha adolescência, vi que não adiantava só virar cisne: era preciso voar! E dá-lhe Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach. Que susto eu levei! Li várias vezes, tentando entender como é que ele sabia de tudo que eu estava procurando, me questionando, sentindo que a vida não era só isso. Tenho as asas, mas o que fazer com elas? Poderia mesmo voar para lugares tão altos como Fernão?
Logo depois emendei com O menino do dedo verde, de Maurice Druom. Era preciso lutar, sim, mas sem perder a ternura! E que missão era essa minha, de fazer brotar flores nos lugares mais escondidos! Será que foi por isto que me embrenhei pela área da Pedagogia?
Depois veio “O encontro marcado”, do Fernando Sabino. Eu já o conhecia das crônicas, leves, engraçadas, mas este romance foi uma paulada. Deixou-me em depressão bem no meio da minha adolescência. Para ir de vez ao fundo do poço: “Olhai os lírios do campo”, do Érico Veríssimo. Os protagonistas dos dois livros são pessoas cheias de questionamentos, que não conseguiam viver de acordo com suas crenças e desejos. E eu lá, sufocada pelo autoritarismo e o medo da liberdade.
O encontro marcado foi tão forte que só fui a este encontro novamente aos 30 anos, morrendo de medo do que leria, será que entraria em depressão de novo? Ufa, que alívio, não. Nem achei o livro tão pesado assim. Mas pude entender melhor meus sentimentos daquela época. Reler um livro anos depois é uma experiência interessantíssima!
Já na faculdade, me entreguei à sensualidade do Jorge Amado. Li todos os livros dele disponíveis na biblioteca, em ordem alfabética. Junto com Drummond, que eu acho parecido com um avô meu. Misturando a imagem que eu faço dele com o que ele escreve, taí: eu e Drummond somos unha e carne. Companheiros pra toda a vida (e o que mais vier!). A pedra no meio do caminho nem ligo muito, mas

“Nesta cidade do Rio,
de dois milhões de habitantes,
estou sozinho no quarto,
estou sozinho na América.”
(A bruxa)

me tocou fundo. E olha que eu nem imaginava que iria morar no Rio algum dia!
E como traduzir de outro modo a minha busca incessante pela palavra mágica?

A palavra mágica

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Curta à vista!




Passei o fim de semana às voltas com a filmagem de um curta do Felipe. Por enquanto, fica só o gostinho da foto. Quando tudo estiver pronto, posto no blog. Olha só a equipe de filmagem!
Ops! Para quem não entendeu: estou com uma lâmpada na mão porque a contra-regra aqui teve que sair correndo no meio da filmagem e ir até o supermercado mais próximo (antes que fechasse) para comprá-la! Mas também quis mostrar que a criatividade rolou solta...Esses meninos vão longe!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sobre os fantasmas do Bartolomeu

Num dos textos eu falei que ia tentar responder para quê dar corpo aos fantasmas, como disse Bartolomeu Campos Queiroz na palestra de abertura do Simpósio da UFRJ.
Mentira, não sou eu que vou responder não. É o próprio Bartolomeu quem respondeu adiante, só fiz suspense...
Ele disse que o livro conversa com você, com o que você é, com seus fantasmas, suas coisas. É quando você lê e pensa: mas era isto que eu queria dizer! O texto dá voz ao leitor, ou corpo aos fantasmas...
Tem até uma música do Milton Nascimento que fala disso:

Certas canções que ouço
falam tão dentro de mim
que perguntar carece
como não fui eu que fiz?

Fiquei pensando sobre os livros que fizeram isto comigo: qual me fez levantar a cabeça da leitura e pensar?